30 novembro 2012

Resenha: O Nome do Vento



Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou o vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade, essas duas figuras se concentram em Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso.

Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O nome do vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano - os lendários demônios que assassinaram sua família no passado.

Quando esses seres do mal reaparecem na cidade, um cronista suspeita de que o misterioso Kote seja o personagem principal de diversas histórias que rondam a região e decide aproximar-se dele para descobrir a verdade.

Pouco a pouco, a história de Kote vai sendo revelada, assim como sua multifacetada personalidade - notório mago, esmerado ladrão, amante viril, herói salvador, músico magistral, assassino infame.

Nesta provocante narrativa, o leitor é transportado para um mundo fantástico, repleto de mitos e seres fabulosos, heróis e vilões, ladrões e trovadores, amor e ódio, paixão e vingança.

Editora: Arqueito
Autor: Patrick Rothfuss
Páginas: 656 (a minha edição...)


- Escreva isto: o cabelo dela era escuro. Pronto. Era comprido e liso. Os olhos eram escuros, a tez, alva. O rosto era oval; o queixo, firme e delicado. Diga que seu porte era elegante e que ela era graciosa. Pronto.
Respirou fundo antes de continuar.
- Por último, diga que era linda. É só o que se pode dizer com acerto. Que era linda até os ossos, apesar de qualquer defeito ou imperfeição. Era linda, pelo menos para Kvothe. Pelo menos? Para Kvothe, era o que havia de mais belo.
Por um momento, ele ficou tenso, como se fosse, de um salto, arrancar também essa folha do Cronista.
Depois relaxou, como uma vela abandonada pelo vento.
- Mas, para ser honesto, é preciso dizer que ela também era bela para outros...” (Pág. 375)

É muito, muito complicado fazer uma resenha decente de O Nome do Vento. O livro é tão... Tão...

Não se deixe enganar pelo tamanho: você mergulha na história de Kvothe, transforma-se nele, vive suas angústias, alegrias e ilusões, e quando percebe, chegou ao final. Por isso, quando consegui me forçar a soltá-lo, o deixei encostado: eu queria prolongar a sensação plena do mundo que Patrick criou que me invade toda vez que mergulho nas páginas de Crônica do Matador do Rei. Mas, uma vez que peguei o livro novamente, foi impossível me fazer largá-lo de novo. As coisas só foram indo e indo, eu fui mergulhando e mergulhando cada vez mais fundo, e de repente... Puxaram-me para fora, e senti-me mal e doente e precisando de mais. Querendo voltar a mergulhar, querendo alcançar as ostras cheias de pérolas que quase alcancei, mas que Patrick não me deixou pegar... A sensação de ter chegado tão, mas tão perto, é quase revoltante.

Mas é aliviada pelas boas vindas que lhe dão após ser puxado para fora. Os últimos capítulos me deixaram “O que infernos aconteceu?”. A recepção de boas vindas te deixa um tanto confuso, com vontade de espionar os personagens que lhe dão tais boas-vindas, só para descobrir o que aconteceu.

Deixando de lado meus devaneios emocionais, vou especificar melhor: o mundo de demônios, religiosos, arcanistas, bardos e muitos outros que Patrick criou é envolvente. Apaixonante. Não é perfeito, tem seus defeitos, como todo lugar. Mas não deixa de ser apaixonante. Não deixa de dar vontade de conhecer pessoalmente.

E a narrativa de Kvothe enquanto conta sua história, é uma pintura rápida, mas rica, com os detalhes dos lugares por onde ele passa (Imre, Universidade, Tarbean... Etc) tão bem destacados sem se arrastar que é quase como se ele pegasse em sua mão e começasse a guiá-lo pelas ruas, tavernas, salas de aula, apontando e explicando tudo, gravando a imagem à ferro em sua mente, mas sem parar em lugar nenhum por muito tempo. E mesmo quando ele não está contando sua história, quando estamos na Marco do Percurso, bebendo uma caneca de vinho ou de hidromel, ainda é como se o lugar estivesse sendo gravado à ferro em sua mente.

Os personagens são tremendamente bem construídos. Todos com suas manias, peculiaridades, defeitos e encantos... Todos dando seu toquezinho pessoal à história, deixando sua marca na vida de Kvothe. Por causa disso, não dá pra falar de cada personagem individualmente.

E o aparente vilão da trilogia, o Chandriano... Tão bem construído, tão envolto de mistérios, tão... Tão... Quase inexistente.

A voz vinha de um homem sentado longe dos demais, envolto em sombras, nos limites do fogo. Embora o pôr-do-sol ainda clareasse o céu e não houvesse nada entre a fogueira e o lugar onde ele se sentavas, as sombras se acumulavam ao seu redor como óleo espesso. O fogo crepitava e dançava, animado e quente, com um toque azulado, mas nenhum lampejo de sua luz se aproximava dele. A sombra se adensava em volta de sua cabeça. Captei o vislumbre de um capuz grande e escuro, como os que usavam alguns sacerdotes, mas as sombras embaixo dele eram tão profundas que era como olhar para um poço à meia-noite.” (Pág. 119)

E a cereja do bolo: a língua afiada e a inteligência quase louca, desesperada e obsessiva de Kvothe, o transformam, realmente, num personagem principal brilhante e encantador. Por mais que ele pareça cheio dos “tchan”, ele não ficou exagerado nem parede todo-poderoso. Ele é só... Ele simplesmente vai atrás do poder, por querer encontrar o Chandriano. Isso não o transforma no ser mais poderoso do mundo, embora seja claro no começo que seus feitos o transformaram numa lenda.

Resumindo: Patrick, junto de Martin, compete acirradamente pelo posto de sucessor de Tolkien. Porque os dois realmente, mas realmente, possuem um talento incrível e histórias de fantasia-medieval incríveis, com personagens apaixonantes e intensos, com histórias intensas. Leiam, não vão se arrepender.

Syba Manda Beijos!


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